Monitorização de Aves Marinhas

© Jorge Araújo da Silva / Out 28 2018

À boleia dos ventos predominantes do quadrante norte, são muitas as espécies de Aves Marinhas que, em particular de agosto a outubro, cruzam as águas da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal com destino aos seus locais de reprodução no hemisfério sul e até noutros mares. Mas este, que é o grupo das aves mais ameaçado do globo, é porventura um dos mais difíceis de estudar. Prova disto é a completa ausência das aves estritamente marinhas das famílias Procellariidae (pardelas) e Hydrobatidae (painhos) na «Lista de espécies de aves referenciadas para o Parque Natural do Litoral Norte». E a falta de conhecimento sobre a sua distribuição ou sobre os seus hábitos poderá estar a comprometer a sua sobrevivência.

 

A pardela-das-baleares Puffinus mauretanicus, que se encontra criticamente em perigo de desaparecer do planeta (IUCN), é avistada com relativa facilidade desde a costa, bastando-nos um simples telescópio para percebermos a importância das nossas águas marinhas para esta espécie fora do seu período reprodutor. Outras há que, embora se admita a sua ocorrência regular na nossa ZEE, não são facilmente detetáveis nem nos promontórios mais destacados. Concorrem para esta dificuldade as semelhanças morfológicas entre espécies próximas, o pequeno tamanho de algumas e os hábitos pelágicos de outras. A participação de um observador de aves nas campanhas de mar no âmbito do Observatório Marinho de Esposende (OMARE) tem preenchido lacunas na inventariação da avifauna no Parque Marinho do Litoral Norte e revelado o grande valor ecológico do nosso mar para esta classe de animais para lá dos Cavalos de Fão ou sobre os muitos baixios que abundam nestas águas, como o Roncador em frente à praia de Ofir ou a Moiteira ao largo da foz do Neiva.

 

Com os moinhos de Apúlia à vista, as últimas campanhas OMARE de setembro e outubro permitiram-nos documentar na nossa área em estudo grandes concentrações das emblemáticas cagarras Calonectris borealis e ajuntamentos com muitas centenas de pardelas-baleares. Descobrimos também que nestas “jangadas” de espécies já conhecidas abrigam-se outras mais excecionais ou típicas do distante mar aberto, como os fura-buchos-do-atlântico Puffinus puffinus, as pardelas-pretas Ardenna grisea ou as pardelas-de-barrete Ardenna gravis. Também muito notado foi o trânsito incessante dos minúsculos painhos chamados de almas-de-mestre Hydrobates pelagicus e a passagem de grandes bandos de negrolas Melanitta nigra. Registamos igualmente os primeiros anúncios do muito que ainda temos para descobrir durante próximos meses. Em fuga aos rigores setentrionais, já começaram a instalar-se ao largo da foz do Cávado as primeiras tordas-mergulheiras Alca torda, aves invernantes que estão entre as principais vítimas de capturas acessórias em artes de pesca, sobretudo nas permanecem abandonadas.

 

Mais preocupante do que sabermos do declínio de uma população de aves é a falta de informação sobre o seu estado de conservação ou quais as regiões do globo que procuram durante o seu ciclo anual. Identificar as espécies que nos visitam, saber quando ocorrem, como se distribuem, qual a abundância, o que procuram ou que ameaças enfrentam quando passam por cá é fundamental para sabermos quais as medidas de gestão ou de conservação de que necessitam. O desafio é global. A nós, apenas nos cumpre fazer a nossa parte para podermos continuar a ser privilegiados com a presença das ilustres Aves Marinhas em Esposende.

Última atualização: 22 Mar. 2019

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